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História pra Contar: Nem tudo que seu mestre mandar

  • Foto do escritor: Cia ContaCausos
    Cia ContaCausos
  • 16 de dez. de 2015
  • 2 min de leitura


Xang era um sábio chinês. Seus alunos aceitavam seus ensinamentos sem pestanejar:

– Sim, mestre!

– Eu ouço e obedeço, mestre!


Um dia, Xang resolveu fazer uma viagem com três dos seus fiéis alunos. Instalaram-se numa carroça puxada por dois burrinhos e lá se foram: nhec, nhec. Xang, já velhinho, logo sentiu sono. Tirou as sandálias e pediu aos jovens:

– Por favor, me deixem dormir! Fiquem bem quietos!


Dali a pouco roncava. Na primeira curva do caminho, as sandálias dele rolaram pela estrada. Os discípulos nem se mexeram. Quando o mestre acordou, logo as procurou.

– Rolaram pela estrada – disseram.

– E vocês não pararam a carroça? Não fizeram nada?

– Fizemos sim, senhor. Obedecemos: ficamos bem quietos.

– Ai, está bem – conformou-se o mestre. Mas se eu cochilar de novo prestem atenção se alguma coisa cair da carroça, ouviram?

– Ouvimos e obedecemos!


Xang cobriu os pés com uma coberta e adormeceu. Entretanto, no balançar da carroça, a coberta deslizou e lá se foi. O mestre acordou com frio. Mas cadê a coberta? Será que…

– Escorregou pela estrada – confirmaram os três.

– E o que vocês fizeram?

– Fizemos só que o mestre mandou. Prestamos atenção.

– Não! – esbravejou Xang. Vocês tinham de pegar a coberta de volta! Atenção: se eu dormir e alguma coisa cair da carroça, peçam para parar e PONHAM-O-QUE-CAIU-DE-VOLTA-NA-CARROÇA, entendido?

– PERFEITAMENTE!


E a viagem continuou: nhec, nhec. O mestre foi cabeceando e cochilou. Dali a pouco, os jumentos sentiram necessidade de fazer… suas necessidades. Ploft, ploft, ploft, caíram os cocozinhos pelo caminho. Os discípulos mandaram parar a carroça e, com muito cuidado, foram pondo os fedidos pelotinhos para dentro. Aquela agitação fez Xang acordar. Nossa, que cheirinho!

– Esperem! O que estão fazendo?

– Apenas obedecendo! – juraramos três. – Pondo de volta o que caiu da carroça.

– Não, mas isso não!


Ai, com aqueles cabeças-duras, só mesmo muita paciência:

– Está bem, vamos começar de novo. Vou fazer uma lista de tudo o que há na carroça. Se algo cair, verifiquem se está nela. Se não estiver, não peguem de volta, certo?

– Somos pura obediência, ó, mestre!

Xang escreveu a lista. Que canseira! Mas agora podia dormir tranquilo… E a carroça subiu uma estradinha íngreme. Numa curva mais fechada, ops, quem é que caiu dessa vez? O mestre! Ele escorregou e se foi ribanceira abaixo.

– Socorro! – gritou – Venham me pegar!

Graças aos céus ele conseguiu se agarrar numa raiz do barranco.

– Ei, o que estão esperando? Me ajudem! – chamou.

Mas os discípulos, imperturbáveis, consultavam a lista.

– Seu nome não está escrito aqui – explicaram. – Não podemos pegá-lo, ó, mestre!

Não teve jeito: Xang, com muito esforço, subiu o barranco e voltou para a carroça. Mas não dormiu mais…


Rosane Pamplona, autora deste conto, é contadora de histórias e professora de Língua Portuguesa.

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